quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Mini conto, E a vida é...


Foi muito jovem. Tornou-se ainda mais jovem num corpo sem esperança. Testemunhou e criou várias vidas. Foram muitas as aventuras. As glórias, os aplausos, as lágrimas de alegria. Muitas viagens. Muitas dores derramadas na tristeza que brotava dos olhos. Amores que nela se esculpiram e gravados ficaram. Depois de cada momento, um abraço e um coração de novo reunido, depois de em mil pedaços se ter partido. Quando abraçou o último amor.
Recebeu um desfiar sem conta de despedidas. Muitas imagens que viu desabrochar numa flor. A sua flor.
Os erros, tantos quantos gotas de chuva num ribeiro, foram-se transformando em memórias. O sol aquecia-os com a sua luz e deixava-os ser... apenas histórias. Caminhos destravados foram percorridos, talentos inatos desconhecidos que um dia livres, abriam caminhos outrora trancados.
Agora, bastava-lhe a simplicidade de se embrulhar na manta e ver a vida se desembrulhar. Tudo era precioso. Deixava-se levar. Retratar com a imaginação a beleza de uma lua cheia, fumar um cigarro ao anoitecer observando os ninhos das cegonhas, perder-se no infinito da imagem de um fogo que se levanta, numa louca espiral em dança. Agora, bastava-lhe rir com amor, com os loucos que amava, até ficar com a pele da barriga arrepanhada e os olhos a lagrimar.
Restava-lhe esperar o momento de se lhe reunir, sem pressa. Nos sonhos davam-se as mãos, com a esperança do reencontro. Adivinhava a excitação e tremia.
E no mais solene momento da vida, nas asas do último compasso da sua melodia, ele, agarrou-lhe na mão e ela, deixou-se nos seus braços voar.


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