sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Não, não vou esperar

Não, não vou esperar que chegue o dia em que tudo vai ficar bem, o dia que vou ter as contas todas pagas, a casa cheia de quadros e almofadas a condizer, o dia em que todos os livros se encaixarem com perfeição nos lugares das estantes, não vou esperar a alma se conformar sem que mais lama a venha tapar, e a segurança seja o meu lema. 
Esse dia não chega, nem cabe na estrada que cubro de histórias. Esse dia não cabe nem chega no corpo pequeno que me acolhe, não cabe no tempoque me sobra, na idade que me abandona, na casa pequena que me cobre o corpo. Nela e nele me aconchego porque as suas paredes pequenas me protegem e são imensas para conter a minha imaginação. Não, não vou esperar o dia certo chegar. Não, não vou esperar o dia final para começar. No escuro vazio do navio negreiro que me pariu em solidão, vou já hoje expandir o meu clarão, enquanto tudo ainda nem começou. Já não tenho tempo para me esquecer de ouvir o mar. O choro da alegria. O calor de uma gargalhada. O gemido do amor. Vou já continuar enquanto sou criança. Nem vou precisar de dormir para sonhar.
Pé ante pé, vou ainda hoje, enquanto está tudo trocado. Tudo atrasado. Tudo vestido. Tudo incerto. Tudo inseguro. Tudo errado.

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