domingo, 15 de fevereiro de 2015

Retrato de uma viajante


De casa aberta,


“Sentada numa doca a descansar os ossos, a ver o tempo passar”, deixando-me levar pela cor do mar, com os pensamentos a voar…Não nunca mais serei a mesma e no entanto sou quem sempre fui. Levo-me com as minhas origens, a minha história, a minha diversidade, quem sou no final de todas as contas com os meus vários mundos para todos as casas onde viajo, chego, fico, abraço, me sento à mesa, passeio pelas suas ruas e me enlaço nessas gentes. De todos os mundos, com as suas histórias, a sua diversidade, a sua cultura, no final de contas com os vários mundos dessas gentes com quem me cruzo, trago-os para dentro de mim: na mesa do salão, com talheres de prata, numa folha de árvore e as pontas dos dedos, sentada numa almofada de areia, no meio de um campo onde despontam pequenas flores amarelas, brancas, roxas, azuis pedindo com ternura: não te esqueças de mim!

Despedida

Querido governo,

Deixo-te a minha oração ao levantar o pé quando subi para a manga de um avião na minha Portela, hoje porta de um país devastado, sem alegria, sem carnaval, onde não quero estar, onde me vejo grega para ser quem quero, onde até o amor é uma obrigação para pagar dívidas, onde não quero pagar nem mais um tostão de juros ou dívida que não fiz ou pedi, nem vos cobrir o bluff, na jogada de poker com que me têm usado:

-“Vou partir, naquela estrada onde um dia cheguei a sorrir”: podes ficar com as auto-estradas, as scuts, os bancos falidos, os submarinos, os centros comerciais, os empreendedores com punho, os carros de alta cilindrada das facturas sem sorte, as motas do soares dos pobrezinhos, os bifes da jonet, os corruptos, os partidos políticos, os deputados, o espírito santo e o homem que em lugar das células tem um cavaco que são embirrentos e parecidos contigo.

Quiçá com os lusos que já partiram, podemos fundar um novo país, talvez nas Selvagens, com um acordo Selvagen com interdição à vossa entrada.

Levo o fado, o cante, o queijo da serra, os vinhos, o sol, a serra algarvia e o Alentejo!



Retrato de António Barbosa,

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Amor e viagens

Amor? Ah, só faz sentido se for como a paixão pelo Benfica: Intenso, dramático,apaixonado, vindo das vísceras. Dá vontade de ver, bater palmas, rir, gritar, discutir, honrar, de pedir a camisola. 
Nunca dura pouco, fica para sempre marcado na pele, no olhar, na insensatez. Sem explicações, razões ou questões. É porque sim! 
Dá vontade de comer a qualquer hora, com ou sem razão. O árbitro.
E fazer todos os dias um enorme carnaval sem máscara.

Viagens e poesia

O sol torna-nos todos poetas.
Pé no chão, cabelos ao vento quente é um modo de vida tão brilhante quanto o sol. E hoje sexta feira 13, véspera do são valentino foi assim que acordei. O sol também me quis dar as boas vindas e saio a correr para os enormes jardins, a despertar com mil cores das flores que despontam e a pensar: 
os narcisos, as tulipas, e as flores silvestres roxas,amarelas,brancas,azuis vão ser as minhas companheiras daqui para a frente num belo passeio. 
Ahh e tal, que bom, o calor...Eis senão quando saio e me vejo envolvida num abraço. Era o meu inimigo vento do Norte a visitar-me. Uma corrente da Sibéria e ainda julguei que por engano tivesse morrido e caído no congelador. Claro está, fui enganada pela sexta feira 13 a minha namorada.
É todo um ar que um africano pé descalço não aguenta...os ossos quebraram-se em dor e senti-me um esquimó sem casacos pele de urso. Ia falecendo! Vim-me aquecer quase dentro da caldeira do aquecimento central e admirar o nascer da Primavera por entre os vidros. Não me voltas a enganar meu namorado sol. Mas espero pelo menos almoçar contigo amanhã e todos os dias por dentro das janelas, no quentinho. Fazes-me ser poeta meu sol no Norte ou no Sul.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

De botas calçadas, mais uma viagem

Rompia vestido de vermelho intenso, o parto do sol pelo céu, quando os pés abandonaram os sapatos de Lisboa. Entristecia-me contente. Recomendei ao Comandante as palavras de um amigo quando de mim se despediu: "vai devagarinho". Assim, lentamente, poderei saborear as saudades do que deixo, do que levo.
Na bagagem Homero foi a Odisseia escolhida como companheira neste pacto de sangue que tenho com a vida. Dei-lhe licença para me conduzir. É o cordão que nos liga. Desta vez ela trouxe-me aos países baixos, conquistados ao mar por gente de elevada estatura e língua bárbara. É aqui que espero desabrochar junto com as tulipas quando romper a estação da renovação.
Um bilhete de ida que espero me traga muitos regressos à minha Ítaca. Ela que se torna neste momento o único monstro que engole os sonhos de quem nela se quer fazer homem. Por uma razão apenas conhecida dos Deuses.
Dela voo para acalentar o sonho vestido de esperança a gerar-se no ventre grávido da terra. Este é o Sebastianismo de um povo que há mil anos de nau, rodas,asas, ou botas consumidas pelo andar se faz grande, fora do ventre da sua terra mãe.
Eu sou uma dos seus filhos. Que da mãe se separa. Para ser como os outros filhos: viajante com os pés calçados de oiro, porque filhos ricos de férteis terras. E, em cada "off shore" vou guardar vários amores:o capital dos afectos nas tribos onde pertenço.
O meu coração é o passaporte onde registo os carimbos, os meus pés o cartão de embarque onde registo os destinos enquanto a minha alma faz o check in das experiências vividas e a minha escrita regista a inevitabilidade da partilha. Perguntaram-me: «não páras»? Sei de cor a resposta:
-Quando vier a glória de embarcar na última viagem com destino desconhecido levarei comigo um gps, um caderno de apontamentos, kilos ilimitados de bagagem afectiva, amores e vivências e as asas bem abertas.
E também botas gastas de andarem em viagem pela terra.
(Numa homenagem que presto a Vincent Willem van Gogh)
Posso dizer-vos que fui conquistada desde que aterrei. Ao nascer  colocaram-me um padrão: agora vou a mais um descobrimento.