quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Vida, África, eu

 


Ainda o sono, com o sono ensonado, apurou o ouvido ao ritmo da vida:

-temos uma relação, sabes não sabes?
-foi para isto que me acordaste?
-queres estar acordada comigo?
-estou a ouvir-te!
-tu plantas mas não sabes se dá frutos. Tens de me acompanhar, cuidar, estar atento, vigilante, acordado. E aceitar-me apenas.
-O que me pedes é tão difícil…
-Sou eu, assim. É o nosso acordo. É o meu ritmo que te leva.
-Eu não acordei nada contigo. Nem acordei ainda.
-Se resistes eu não vou desaparecer. Vou insistir…
-E se me desligo?
-Trago-te para a minha altura.
-Deixas tudo claro. Não controlo nada pois não?
-Não!
-Mas torço por ti. Esforça-te. Não desistas de ti.
-Vês? Não és fácil!
-Porque deveria ser? Se calhar perdias o meu sentido…
-E se fracassar?
-És maior que o fracasso. O fracasso só o é se não tentar. E nem assim é. Foi sim possível ser… porque tentou.
-Não me sinto com força para acordar.
-Nem as folhas no Outono são abandonadas. Aguardam uma nova estação para renascer…
-Tens a minha chave. Podes-me encontrar…
-Não sei se te perdeste de mim…
-Não sei eu se te perdi...
-Não sei se me perdi de ti…
-Perdemo-nos no momento em que nos encontrámos…
-Mas quero-te reencontrar. Estás-me atravessada no caminho. Da vida que sou.
-Habitas-me os sonhos e cada manhã que nasce, nasce contigo…
-Porque me estás grata…
-Acendes uma luz em mim digo-te eu.
-Aceitas-me?

-Quero-te! O sol nasceu.

Sem comentários:

Enviar um comentário