“Fantasiar ajuda-nos a habitar no
mundo, habitar a felicidade do mundo”, Gaston Bachelard
Disse-me a fantasia,
enfeita-te com o chapéu de sol
Atira o xaile pelas costas
E vem
Conquistar a poesia,
Se pelo caminho te cruzares
Com a fantasia
Da poesia
Primeiro tentamos,
Adoçar o café da manhã
Com beijos de mel
E nele encontramos poesia
Primeiro ganhamos
o outro
apimentando o almoço
com abraços de sabor forte
e neles encontramos poesia
Primeiro saboreamos a noite
Com o abandono do sono
Feito de almofadas
Nos nossos colos macios
E nele encontramos poesia
Primeiro partilhamos os sonhos
Sonhados acordados
Com os sinais que unem
As fantasias comuns ali contidos
e neles encontramos poesia
Primeiro percorremos
O caminho dos amantes
Que se descobrem indefesos
E nele encontramos poesia
Primeiro descobrimos
Os álibis de quando nos
Roubarmos a essência,
E neles encontramos poesia
Primeiro subimos ao telhado
para mais perto das estrelas
ficarmos
e nelas nos fundirmos
Primeiro apaixonamo-nos
E na paixão encontramos poesia
E se no fim sobrar
O peso
da ausência do outro,
e a poesia connosco se encontrar
Então nesse momento
e apenas nesse momento
se o coração se perguntar
se já não é de si próprio
se ao outro pertence,
porque já só pertence à poesia
Deixamos a primavera instalar-se
Diremos aos botões um até amanhã
Enquanto esperamos as flores
desabrochar
Porque encontramos fantasia
Na poesia
E felicidade na fantasia
E no cosmos da poesia
Podemos descansar
Se por outro lado
pelo caminho da mesa
Posta para dois
Se pela cama almofadada de sonhos
do café do pequeno-almoço
a poesia pela janela dos sonhos
se escapar,
então nesse momento
e apenas nesse momento de perda
da fantasia
diremos adeus
à fantasia revelada no poema
Que não se fez
poesia
Sem comentários:
Enviar um comentário