sábado, 1 de agosto de 2015

"a walk in the wild side"

Estava só por amor. 
Num dia sem marca surgiu a minha amante. Aguardava-a.
Bateu à porta. Entrou, sentou-se e ocupou-me a sala, a mesa da cozinha.
O sofá. A mente. O espírito. A alma. O corpo.
Deixou a escova de dentes.
As roupas caídas pelo quarto. O perfume na pele do ar.
Hoje todos os espaços lhe pertencem. É o sal que condimenta os dias.
Alimenta-me.
Bordando ponto a ponto a festa da vida.
Bebe,come, fuma,dorme, alimenta-se sem eu lhe entender os vícios nem as manhas.
Fez-me divorciar de tudo e transformou-me num todo.
Fez-se manhã, regressou a noite.
Ficou.
O resto…
Não há resto.
Assenhorou-se, aprisionou-me e exigiu de mim que lhe fosse devotadamente inteira. Não mais saí sem a olhar.
Não mais fui metade.
Não mais vivi sem a possuir. Não vivo sem me certificar que me possui.
Vive dentro de mim.
Desaprendi dizer-lhe “agora não posso”.
Com alarde nas noites. Em recolhimento nas manhãs. Em loucura nas tardes.
Troca-me os risos de dia. Banha-me com rios de silêncio na noite.
Tece ninhos com cuidados de abelha num bem-me-quer.
Acorda-me mansamente com amor inspirado.
Renovado. Próspero.
Adormece-me lançando palavras que me beijam.
Iniciou-me num tempo novo.
Banhou-me de vida.
Como o sexo.
Encaixamos o côncavo no convexo.
Nas “linhas tortas escreve-se direita”.
Aguarda-me. Uns dias deixa-se ficar,não se precipita.
Outros... irrompe sem fôlego. Num longo amplexo.
Como velhos amantes sequiosos de se possuírem.
Sem precisarem de estar prontos. Bem fundo, prontos são.
Nunca foi difícil entrar nela nem nela estar.
Fico aqui. Pronta e eterna para ela.
Morro nela. Vivo para ela.
Não, não é perigoso com ela feliz ser.
Infeliz seria não a ter.
Nela envolvo todos os sentidos. Em permanência.
Sentamo-nos a tomar o café da manhã enquanto nos envolvemos com olhares. Em silêncio nos sentires.
Em casa estamos. Ficamos. Dentro uma da outra..
Esperançada vivi que ela me chegasse. O objecto da minha esperança veio. Tudo o resto pode falhar. Ela, sei porque veio do coração, não me falha.
Estou só. Com o coração preenchido de amor.
Numa infinita história de amor.
Numa entrelaçada festa de pijama e chinelos.
De dedos laçados.
Eu e ela. Como nos mais belos contos de amor puro.
Grata estou. Sem contabilidade.
Somamos ao infinito o nosso lar.
Sem resto.

Sem comentários:

Enviar um comentário